METODOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO DA TECIDOTECA UEM MODA
METHODOLOGY AND IDENTIFICATION OF TECIDOTECA UEM FASHION
Gabriela Saad1
Priscilla Tucunduva2
RESUMO
O projeto de Extensão TECIDOTECA terá como intuito disponibilizar um acervo de bandeiras têxteis (tecido e não tecido) para consulta e pesquisa da comunidade, alunos e profissionais na área do vestuário e moda, no Campus Regional de Cianorte da UEM, possibilitando o manuseio da matéria-prima in loco ou através do site que será desenvolvido pelo projeto, com a função de entender, conservar, conhecer, e organizar os têxteis como documentos para pesquisa em moda. A metodologia deverá identificar e cadastrar nestas bandeiras o tipo do material têxtil, nome comercial e técnico, a composição, a largura, a gramatura, o rendimento, o encolhimento, a solidez, a cor, o segmento para seu uso, o tipo de fio, a metragem e o rapport3. Essa Tecidoteca terá a certificação do laboratório de análises têxteis do Curso de Engenharia Têxtil do Campus Regional de Goioerê.
Palavras-chave: Bandeira têxtil. Vestuário. Identificação.
ABSTRACT
The Project of extension TECIDOTECA will have as purpose to provide a collection of flags textiles (fabric and non fabric) for consultation and search of community, students and professionals in the apparel and fashion, on Regional Campus of Cianorte, of UEM, allowing handling of raw material in loco or through the website that will be developed by the project, with the function of understand, keep, know and organize the textile like documents for search in fashion. The methodology will identify and register these flags the type of textile material, technical and trade name, composition, width, wight, productivity, shrinkage and solidity, color, the segment for its use, the type of thread, metreage, rapport (drawing). This Tecidoteca will have the certification of laboratory analysis of textile by Course of Textile Engineering of UEM, on Regional Campus of Goioerê.
Key-words: Flag textiles. Clothing. Identification.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo divulgar o projeto de extensão TECIDOTECA (em fase de implantação) da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Campus Regional de Cianorte
(CRC), que visa atingir o APL4 Confecção Cianorte/Maringá - PR, conhecido como “corredor da moda e das confecções” (contando com aproximadamente 350 empresas cadastradas). Pretende-se ainda unificar a Universidade e a comunidade (extensão), aproximando alunos, o chamado “chão de fábrica”5 e profissionais na área de moda no conhecimento e manuseio das fibras têxteis.
O município de Cianorte está localizado no Noroeste do Estado do Paraná, fundado em 13 de julho de 1955, conta atualmente com 74.000 habitantes. O nome “Cianorte” tem origem da abreviação do nome da empresa colonizadora da região “Companhia Melhoramentos Norte do Paraná”, sigla essa “Cia Norte” adotada pela empresa para facilitar as comunicações nos primeiros tempos e também como endereço telegráfico (CIANORTE..., 1988). A economia da cidade era baseada na monocultura cafeeira, pois o solo desta região era muito favorável para o cultivo do café.
Por volta de 1975, às lavouras de café foram dizimadas com a geada negra, o que acarretou uma enorme perda na economia da cidade. Alguns agricultores abandonaram o campo e outros apostaram na industrialização, mais precisamente no setor do vestuário, o qual projetou Cianorte em escala nacional e foi responsável pela expansão urbana nos últimos anos. Por isso o município é identificado como Capital do Vestuário.
Quem mais investiu no aquecimento da economia de Cianorte e no setor de vestuário foi o ‘Senhor’ Cheble Mitre Abou Nabhan (empresário de origem libanesa) desenvolvendo projetos que mais tarde se tornariam potência. Instalou, no início dos anos 1980, a Cheina Confecções que produz roupas femininas, masculinas e grifes internacionais, considerada a maior do município e a maior da América Latina no ramo faccionista, abastecendo vários estados brasileiros. Em 1993 inaugurou o Nabhan Fashion, um shopping de atacado com dois pavimentos, sendo a Cheina Confecções ocupante da maior parte da área construída e as demais áreas distribuídas por outras lojas e a praça de alimentação. (CIOFFI et al., 1997).
Neste contexto, Cianorte cresceu e hoje passou a ser considerada o maior pólo atacadista de confecções do sul do país, com as mais diferentes grifes e expondo tendências na moda nacional. Atualmente é conhecida como “Capital do Vestuário” título lançado pelo então gestor Jorge Moreira da Silva e reforçado na gestão de Edno Guimarães (de 1989-1992 e 2005-2008).
No município, o curso de graduação em Moda foi criado em 2002 para suprir a demanda local com a formação de profissionais para atuarem na cidade e na região. Tal fato é percebido ao visitar indústrias do vestuário, onde se constata que parte desses profissionais se formaram na UEM, Campus Regional de Cianorte.
2 DESENVOLVIMENTO
Os tecidos e não-tecidos guardam em si informações sobre todos os aspectos de sua elaboração. É justamente no contexto da roupa que podemos entender como uma determinada forma, arquitetura têxtil, design, manifesta-se. Cada uma das linhas possui um sentido e representa um gosto específico localizável no tempo e espaço. Para Chataignier (2006), a roupa é um produto com características espaciais, mobilidade, tridimensionalidade, movimento, textura, direção, etc. É uma criação plástica que possui e se orienta a partir do diálogo que estabelece com o próprio corpo que veste.
Pretende-se, a partir deste artigo, dimensionar não apenas as associações espontâneas que a maioria das pessoas tem ao “ver” um tecido ou malha, mas também as suas particularidades como uso, capacidade de proteção, análise da superfície do design têxtil, sua mensagem estética, entre outros.
Design de Superfície é uma atividade técnica e criativa cujo objetivo é a criação de imagens bidimensionais (texturas visuais e tácteis), projetadas especificamente para a constituição e/ou tratamento de superfícies, apresentando soluções estéticas e funcionais adequadas aos diferentes materiais e processos de fabricação artesanal e industrial (RÜTHSCHILLING, 2009).
Levinbook (2008, p.373) menciona que o rapport é a técnica de repetições diretas ou saltadas, e é possível ser desenvolvida em projetos têxteis, papéis desenhados, azulejos, paredes e pisos, entre outras superfícies.
O estudo desta pesquisa remete às origens das matérias primas têxteis e sua história. Na Era Neolítica 883-859 a.C. a tecelagem aparece em grande escala e requer abrigo próprio fixo, uma vez que o tear tende a ser grande e pesado e, portanto, difícil de transportar. A situação ideal para seu desenvolvimento era uma comunidade pequena, estabelecida, cercada de bons pastos para as ovelhas. O velo era tosquiado por métodos muito semelhantes aos atuais; o monte de fibras resultante era então fiado, e o fio era tecido em um tear. Uma vez estabelecida à manufatura de tecidos, mesmo que fosse em escala pequena, abriu-se o caminho para o desenvolvimento das roupas que conhecemos (LAVER, 1996).
Portanto, para Chataignier (2006), a tecelagem consistia em entrecruzar dois fios, ou seja, o urdume com a trama. A urdidura pertence a um grupo de fios longitudinais e a trama liga-se a outro grupo de fios chamados também de enchimento, e que são transversais, colocados na largura do tecido. É importante saber que os fios da urdidura são fiados em um tear através de várias molduras conhecidas como arneses, que possuem um movimento próprio, levantando alguns fios de urdidura e abaixando outros. Esse procedimento forma um espaço entre os fios, que, por meio de uma ferramenta chamada lançadeira leva os fios pelo espaço existente, formando os fios transversais do tecido, entendidos como trama.
A fibra têxtil, matéria prima do tecido, é o termo genérico para vários tipos de material, naturais ou artificiais que formam os elementos básicos para fins têxteis. De acordo com a ASTM (American Society for Testing and Materials), fibra têxtil é um material que se caracteriza por apresentar um comprimento pelo menos 100 vezes superior à sua largura ou diâmetro. Uma definição mais objetiva seria dizer que fibra têxtil é todo material que pode ser usado para fins têxteis (fios, tecidos, não-tecidos, etc.). Além do comprimento e da largura ou diâmetro, as demais características concludentes seriam: a resistência à tensão, a absorção, o alongamento, a elasticidade, a resistência à abrasão etc. A indústria têxtil utiliza diferentes espécies de fibras provenientes da natureza, havendo ainda as que são artificialmente produzidas pelo homem, com a utilização de materiais oriundos dos reinos vegetal e mineral (PITA, 1996). No Brasil há o Centro Tecnológico da Indústria da Moda (CETIM) do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) que reúne competências tecnológicas em Têxteis, Confecções, Couros e Calçados. (IPT, 2009)
Segundo Rodrigues (1996), o tecimento é uma das artes mais antigas, como muitas outras artes. Durante séculos foram sendo produzidos de uma mesma maneira e suas melhorias foram lentas. No século XX, à medida que as tecnologias de ponta avançaram, os teares tiveram total e grande importância em sua evolução na indústria têxtil, ou seja, um dos setores com maior desenvolvimento e pesquisa em sua área (tecelagem). A tecelagem é considerada um grande marco na história e evolução da humanidade, pois através desta, criou-se conceitos, inclusão social e divisões na história. Consta que era um trabalho exclusivamente feminino até por volta de 1270 da era cristã e, pelo passo a passo que durou milênios, proporcionou um estágio de vida diferenciado, no qual foi se misturando arte, costumes e tradições e, posteriormente, ciência e tecnologia (CHATAIGNIER, 2006).
Entretanto, a qualidade de um produto têxtil é difícil definir e mais difícil ainda quantificar, pois o teste final de aceitabilidade pode ser de caráter pessoal. Por esse motivo, a perfeição e a uniformidade não são, em si mesmas, fatores essenciais, pois as fibras têxteis, sobretudo as naturais, são extremamente variáveis. Assim, considerando-se as enormes quantidades em que são fabricadas, torna-se inevitável que não se produza alguma variação no produto final, que pode ser inclusive, estatisticamente desejável (ALBUQUERQUE, 1987).
Deste modo, a indústria têxtil, no controle de suas especificações adequadas para o resultado final do produto requer qualidades nos controles e testes, durante o processo e após a construção do produto de moda.
A partir destes conceitos da indústria têxtil é necessário fomentar como o design de moda compreende a ‘moda’ dentro do têxtil. Feghali e Dwyer (2001) comentam que o designer de moda na tecelagem é um difusor da tecnologia adequado ao parque têxtil, da pequena à grande indústria. Este desenvolve sua coleção diretamente na tecelagem ou malharia, elaborando desde sua produção até o mercado interno ou externo. Sendo assim, é importante para o profissional da área de desenvolvimento de produto de moda saber as principais características de um material têxtil para o desenvolvimento de suas coleções. Assim, com as devidas informações técnicas, é possível analisar melhor a construção da peça de acordo com o caimento, elasticidade, maleabilidade, rendimento esperado, entre outras especificidades.
É nesse momento que se faz necessária uma ampla pesquisa de materiais que o design realiza para elaborar a coleção e usar seu lado criativo. E também afirmarmos que o tempo e a história modificam as necessidades do ser humano e, consequentemente, o modo de vestir.
Na criação de um mostruário para desenvolver uma coleção na indústria ou mesmo uma única roupa é preciso combinar a matéria prima têxtil. Selecionar tecidos é uma atividade prazerosa, mas requer estudo, gosto e experimentação. Isso pode ser tão simples quanto escolher tecidos de suporte, como, entretelas e forros, ou tão complexo quanto pesquisar e analisar tecidos para montar uma ficha técnica de produto de moda.
3 METODOLOGIA
Para a implantação do projeto de extensão TECIDOTECA será utilizada como metodologia a coleta, observação e a identificação dos materiais têxteis. Esses materiais serão adquiridos pelos integrantes do projeto através de pedidos via internet, fornecedores, tecelagens e nas indústrias de confecção da cidade de Cianorte e região. A análise se dará com base no manuseio, cortando, queimando e fotografando os tecidos e não-tecidos para assim identificar e especificar o tipo de matéria-prima, cor, gramatura e metragem, encolhimento, solidez, rapport e depois das informações coletadas, as amostras serão encaminhadas para o laboratório de análise têxtil para os profissionais capacitados no Campus Regional de Goioerê (CRG). Cada item será exposto em bandeiras de 30x20cm, com suas devidas especificações. Este acervo estará disposto em araras medindo 1,20cm de largura e 2m de altura para uma melhor visualização e manuseio do mesmo.
A organização será pelo número de chamada, que tem uma forma metódica para relacionar os itens de uma coleção, indicando a localização de cada item na biblioteca. Cada bandeira receberá, também, um número de registro, para controle de cada item incorporado ao acervo. Após coletados os dados, catalogados e classificados serão inseridos no Catálogo on-line da biblioteca do CRC6 por meio do software Virtua, onde serão dispostos para consulta interna e externa. O software Virtua utiliza como padrão de catalogação o Código de Catalogação Anglo-Americano (AACR2) e o formato MARC21, que possibilita a troca de dados de diversos sistemas. O sistema de classificação adotado é a Classificação Decimal de Dewey (CDD – 21.ed.).
Pretende-se elaborar junto ao Laboratório de Design e Moda (LDM) um site do projeto TECIDOTECA possibilitando, por meio de análise e de leitura, dominar sua historicidade técnica e rendimento do produto têxtil, permitindo assim que a comunidade externa tome conhecimento do trabalho desenvolvido na Universidade.
CONCLUSÃO
A TECIDOTECA é um processo de criatividade na formação e conhecimento de materiais têxteis, direcionando o aprendiz na compreensão dos tipos de tecidos e não tecidos, além dos teares existentes no mercado, a multiplicação dos desenhos, motivos, e grafismos das coleções de tecidos que atualmente incentivam representantes comerciais a apresentar às confecções e aos profissionais da área uma variedade de amostras, combinando com os hábitos e exigências do público alvo.
O segmento têxtil levou os industriais a considerar processos de reprodução em tecidos que pudessem ser fabricados em série aliados ao prêt-à-porter7. A estruturação do conjunto de uma coleção e desenvolvimento de um produto do vestuário em série requer muito conhecimento e pesquisa, aliado a parcerias e também ao conhecimento de particularidades, como: cores, matérias têxteis, aviamentos, costura, formas, desenhos, estilo, entre outros.
Com este trabalho, procura-se disseminar a comunidade, alunos e profissionais na área do vestuário e moda, alguns princípios fundamentais da área têxtil para um melhor entendimento e auxílio na elaboração dos trabalhos de conclusão de curso e desenvolvimento de coleções sazonais de moda. Esperamos assim obter produtividade e efetividade somada as demais exigências do mercado em prol do desenvolvimento da cadeia têxtil.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Florival Ferreira. Controle de qualidade na indústria de fiação e tecelagem. Rio de Janeiro: Senai/Cetiqt, 1987. v.1
CHATAIGNIER,G. Fio a fio: tecidos, moda e linguagem. São Paulo: Estação da Letras, 2006.
CIANORTE ontem e hoje: uma breve história. Cianorte: [s.n.], 1988.
CIOFFI, Helena et al. Cianorte: sua história contada pelos pioneiros. Maringá: Gráfica Ideal, 1995.
FEGHALI, Kasznar Marta; DWYER, Daniela. As engrenagens da moda, São Paulo: SENAC, 2001.
IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). Áreas técnicas: indústria da moda: têxteis e confecções. Disponível em: <http://www.ipt.br/areas/cetim/ltco/>. Acesso em: 15 jun. 2009.
LAVER,J. A roupa e a moda. São Paulo: Companhia das letras,1996.
LEVINBOOK, Miriam. Design de superfície têxtil. In: PIRES, Dorotéia Baduy (Org.). Design de moda: olhares diversos. Barueri: Estação das Letras e Cores, 2008. p.371-387.
PITA, Pedro. Fibras têxteis. Rio de Janeiro: Senai/Cetiqt, 1996. v.1
RODRIGUES, H.L. Tecnologia da tecelagem.Rio de Janeiro: SENAI-CETIQT,1996.
RÜTHSCHILLING, Evelise Anicet. Design de superfície. Disponível em: <http://www.nds.ufrgs.br/usoteorico/ds_principio_basico.php>. Acesso em: 19 maio 2009.
* Acadêmicas do 2º ano do curso de graduação em Moda da Universidade Estadual de Maringá, Campus Regional de Cianorte e integrantes do Projeto de Extensão Tecidoteca sob a orientação do Prof. Fabrício de Souza Fortunato e demais integrantes Prof. Ronaldo Salvador Vasques, Prof. Sandra Aparecida Sampaio Benhossi e a Bibliotecária Márcia Regina Paiva.
1 Acadêmica do curso de graduação em Moda (UEM) - gabiisaad@hotmail.com *
2 Acadêmica do curso de graduação em Moda (UEM) - priscillatucunduva@yahoo.com.br *
3 Desenho
SAAD, Gabriela; TUCUNDUVA, Priscilla. Metodologia e identificação da tecidoteca Moda UEM. In:
COLÓQUIO DE MODA, 5., Recife, 2009. Anais ... Recife: Faculdade Boa Viagem, 2009. 1 CD-ROM.
2
4 Arranjo Produtivo Local confecção Cianorte/Maringá - PR
5 São todas as pessoas que trabalham em fábricas de confecção, desde o trabalhador que faz a entrega da matéria-prima ao profissional que entrega a peça pronta.
SAAD, Gabriela; TUCUNDUVA, Priscilla. Metodologia e identificação da tecidoteca Moda UEM. In:
COLÓQUIO DE MODA, 5., Recife, 2009. Anais ... Recife: Faculdade Boa Viagem, 2009. 1 CD-ROM.
6 Biblioteca Setorial do Campus Regional de Cianorte (www.bce.uem.br/crc).
7 Ready to wear, pronto para vestir.
SAAD, Gabriela; TUCUNDUVA, Priscilla. Metodologia e identificação da tecidoteca Moda UEM. In:
COLÓQUIO DE MODA, 5., Recife, 2009. Anais ... Recife: Faculdade Boa Viagem, 2009. 1 CD-ROM.
8
SAAD, Gabriela; TUCUNDUVA, Priscilla. Metodologia e identificação da tecidoteca Moda UEM. In:
COLÓQUIO DE MODA, 5., Recife, 2009. Anais ... Recife: Faculdade Boa Viagem, 2009. 1 CD-ROM.
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